quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Marina tem dificuldades de atrair políticos de peso para seu partido


O processo de criação do 31º partido político brasileiro, encabeçado por Marina Silva, a ex-senadora pelo Acre e dona de 20 milhões de votos na última eleição presidencial, terá seu grande dia neste sábado, em Brasília, quando será definido o seu nome e serão lançados o programa e o estatuto provisórios, com ideias peculiares e uma série de restrições ao comportamento vigente da política atual. Marina está contando com apoio e solidariedade de políticos de vários partidos, PT e PSDB principalmente, mas poderá ter dificuldades em assinar a ficha de filiação de muitos deles. Até o momento, apenas três parlamentares confirmaram o desejo de migrar para a legenda: Alfredo Sirkis (PV-RJ), Walter Feldman (PSDB-SP) e Domingos Dutra (PT-MA). 

Outros nomes cotados como possíveis correligionários de Marina no partido, que por enquanto se chama “Rede”, já avisaram, por meio de assessoria, que ficam onde estão, entre eles os deputados Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ).

O processo de criação precisa ser concluído até o início de outubro, para que os filiados possam disputar as eleições do ano que vem. Não será difícil conseguir 500 mil assinaturas em nove estados, como exige o Tribunal Superior Eleitoral. O desafio é conseguir apoios políticos efetivos que viabilizem a vida do partido.

Reservadamente, políticos assediados alegam que a legenda está se constituindo como “o partido da Marina”, pois a maior preocupação, dizem, é garantir a candidatura dela a presidente em 2014. Marina não estaria disposta a trabalhar por candidaturas a governos estaduais e ao Senado, por exemplo.

Tempo de Mandato: limite de 16 anos

Além desse temor, regras previstas no estatuto provisório — que deverá sofrer alterações ao longo deste ano — servem como repelente para políticos. É o caso da limitação a 16 anos do tempo de mandato parlamentar de um filiado. Serão proibidas filiações de políticos “ficha-suja”e haverá teto para doações de pessoas físicas e jurídicas. O estatuto provisório, que deverá ser aprovado no sábado, proíbe a contribuição de setores cuja lógica produtiva “não seja ligada à sustentabilidade”, assim como de empresas das áreas de cigarros, armamentos, agrotóxicos e bebidas alcoólicas. A proposta é de que a nova sigla não tenha um presidente nacional, mas uma comissão executiva cujos membros tenham poderes iguais. O coordenador jurídico da rede Pró-partido, André Lima, diz que a ideia é impedir a formação de “caciques”:

— Queremos trabalhar como uma rede, sem caciques políticos. O limite de 16 anos de mandato abre espaço para novas lideranças — disse Lima, ressaltando que o grupo ainda não está discutindo alianças ou questões eleitorais.

Outro ponto que preocupa simpatizantes do partido é a intenção de reservar 30% das vagas no Congresso a candidaturas avulsas, para os que não tenham comprometimento partidário — a filiação partidária é obrigatória para o candidato. A ideia de fazer plebiscito após 20 anos para avaliar se o partido deve continuar a existir também provoca calafrios em políticos.

Um parlamentar simpatizante da ex-senadora diz que os colegas cotados para ir para a nova legenda estão inseguros sobre como será o partido:

— As ideias são, no mínimo, inusitadas. É bem intencionado, mas está sendo conduzido por pessoas de outras áreas, sem experiência partidária. É tão utópico, distante, que fica difícil saber se é possível. Marina atrai, mas o fato de ela ter 20 milhões de votos não quer dizer que tenha tarimba para ser líder de partido.

Outro político que conversa com o grupo de Marina acredita que ela não conseguirá estruturar uma legenda:

— A Marina não está montando um partido para ganhar eleição, ela quer somente repetir os 20 milhões que fez em 2010 e ser uma popstar. Somente os idealistas vão para um partido desse.

Os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Taques (PDT-MT), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Simon (PMDB-RS) e a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) serão procurados após a criação do partido. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) já declarou que ajudará na fundação, mas que, por ora, não pretende sair do PT.

— Eu, Sirkis e Domingos Dutra vamos participar da fundação e assinar como fundadores. Os outros deverão analisar por mais tempo, e não devem, neste primeiro momento, participar. O processo de formação do partido vai demorar cerca de seis meses. Com a criação da legenda, haverá mais tranquilidade (para adesões) — avaliou Walter Feldman.

Ao contrário dos partidos que sangraram em 2010 e 2011 com a ida de filiados para o PSD, dirigentes de outras legendas não mostram preocupação. Como o deputado Sarney Filho (PV-MA), que foi companheiro de partido da ex-senadora:

— No Congresso, acredito que só o deputado Sirkis vai para o partido. É irrelevante em termos de Legislativo. Quanto mais partido para favorecer a causa do desenvolvimento sustentável, melhor. Já estamos em extrema desvantagem em relação aos ruralistas.

Nem mesmo no Planalto a criação do partido de uma potencial concorrente da presidente Dilma Rousseff é levada muito a sério. A avaliação é que a legenda deve enfrentar dificuldades para se viabilizar, diferentemente do PSD de Gilberto Kassab, que nasceu com respaldo de parlamentares e políticos nos estados.

Uma das estratégias do novo partido, já com vistas a 2014, será um pacto de “não agressão” com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

— A ideia é ter bom relacionamento, pacto de não agressão. Achamos difícil aliança. Campos é um dos políticos mais permeáveis ao que a gente defende — disse Sirkis.


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