O prefeito Julio Lossio (PMDB), cassado, na noite de ontem (27), pelo Tribunal Regional Eleitoral, enviou, com exclusividade para o blog do Magno Martins , seu desabafo sobre a decisão que o afastou do comando da Prefeitura de Petrolina, no Sertão do São Francisco.
Acusado de “abuso do poder econômico”, o peemedebista, cassado pela segunda vez, se diz vítima de uma possível perseguição política e questiona coligações e o uso da máquina pública nas eleições municipais do ano passado.
Leia a íntegra:
“Hoje, mais uma vez, acordo cassado.
Eu que nunca cassei, hoje sou cassado. Não posso usar o provérbio que diz ser 'um dia da caça e outro do caçador'.
Em 2009, me deparei com dois grandes desafios. O primeiro era a falta de creches para nossas crianças. O segundo, a falta de casas para nossas famílias.
Direitos fundamentais do cidadão cassados pelo modelo então vigente.
Para o primeiro, criamos o maior programa de inclusão de crianças em creche, o Nova Semente, que, em parceria com a sociedade civil, atende seis mil crianças em tempo integral. Ampliamos o número de crianças alfabetizadas e reduzimos a mortalidade infantil. Placas de identificação das suas unidades me custaram a primeira cassação, no período eleitoral, em primeira instância.
Para o segundo problema, buscamos no Programa Minha Casa, Minha Vida, o que é hoje o maior programa habitacional de todo Norte/Nordeste. Dez mil contratos, dez mil famílias que já foram ou serão beneficiadas.
Tínhamos em Petrolina, e sei que é um problema do estado e do país, a questão fundiária. Buscamos apoio do Tribunal de Justiça para que elaborássemos provimento que nos permitisse realizar a Regularização Fundiária. Anunciamos através de um decreto de interesse social a regularização de centenas de casas.
Um vereador da oposição à época anunciou: 'Esse é um problema histórico e o prefeito só promete como tantos já fizeram. Se ele fizer, voto nele'. Durante o evento de assinatura da desapropriação da área, vi homens e mulheres que tinham naquelas casas seu único bem se emocionarem. Naquele momento estava afastado o risco de demolição que tanto amedrontava aquele povo.
Naquela noite, avistei entre as pessoas, o vereador supracitado e não resisti, dizendo-lhe: 'vereador, está feito o prometido, agora espero que cumpra sua promessa'. O engraçado é que o vereador parece não ter votado em mim, foi candidato na coligação que apoiou o candidato do PSB.
Essa fala e esse ato, um, ou os dois, foram interpretados como abuso do poder econômico, o que agora me custa a segunda cassação.
Vi na justificativa da decisão “abuso de poder econômico na eleição”. Curioso é que disputamos contra o poder do Governo do Estado, do Ministro da Integração, deputados e a maioria dos vereadores da cidade e, mesmo assim, nós é que “abusamos do poder econômico'?
Durante o pleito eleitoral de 2012 tivemos quatro candidatos. Rosalvo, do PSOL, que teve em sua coligação vinte e sete candidatos a vereador. Odacy Amorim, do PT e PPS, com trinta candidatos a vereador. Julio Lossio, do PMDB, PSDB, DEM e PMN, com trinta e seis candidatos a vereador. Fernando Filho, do PSB e mais 18 partidos, que somaram cento e quarenta e cinco candidatos a vereador e, mesmo assim, nós é que “abusamos do poder econômico'?
Vimos, ainda, o uso abusivo da Codevasf com realização de pavimentações em ruas ainda não saneadas, bem como entrega de equipamentos agrícolas e cisternas, com fins claramente eleitoreiros e, ainda assim, nós que “abusamos do poder econômico'?
Se me sinto injustiçado? Não. Sinto-me cassado. Até porque acredito que a justiça pode até tardar, mas não falha. Até porque, não sou prefeito. Estou prefeito. Ou melhor: estava!
Que Deus nos permita ser apenas o que somos e o que somos merecedores.
Att.
Julio Lossio.”
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